sexta-feira, 4 de abril de 2008

Acho que, no mínimo, merece uma reflexão.

Nos últimos anos tenho visto revoltado e estarrecido a um processo cruel de desconstrução da cultura nordestina, notadamente sertaneja com a conivência da maioria das prefeituras e rádios do interior. Digo isso porque vivo em interior há 5 anos. Em todos os espaços de convivência, praças, bares, e na quase maioria dos shows, o que se escuta é música de péssima qualidade que, não raro, desqualifica a mulher e embrutece o homem. Como se ser rapariga ou cachaceiro fosse alguma qualidade.O que adianta as campanhas bem intencionadas do governo federal contra o alcoolismo e a prostituição infantil, quando a população canta "beber, cair e levantar", ou "dinheiro na mão e calcinha no chão" ? O que adianta o governo estadual criar novas delegacias da mulher se elas próprias também cantam e rebolam ao som de letras que incitam à violência sexual? O que dizer de homens que se divertem cantando "vou soltar uma bomba no cabaré e vai ser pedaço de puta pra todo lado" ? Será que são esses trogloditas que chegam em casa, depois de beber, cair e levantar, e surram suas mulheres e abusam de suas filhas e enteadas? Por onde andam as mulheres que fizeram o movimento feminista, tão atuante nos anos 70 e 80, que não reagem contra essa onda musical grosseira, violenta e de péssima qualidade? Se fazem alguma coisa, tem sido de forma muito discreta, pois não vejo nada nos meios de comunicação, e nada encontro que questione ou censure tamanha barbárie. E boa parte dos mesmos meios de comunicação são coniventes, pois existe muito dinheiro e interesses envolvidos na disseminação dessas músicas de baixíssima qualidade com artistas idem.
E não pensem que essa avalanche de mediocridade atinge apenas os menos favorecidos da base de nossa pirâmide social, e com menor grau de instrução escolar. Cansei de ver (e ouvir) jovens que estacionam onde bem entendem, escancaram a mala de seus carros exibindo, como pavões emplumados, seus moderníssimos equipamentos de som e vídeo na execução exageradamente alta dos cds e dvds dessas bandas que se dizem de forró eletrônico. O que fazem os promotores de justiça, juízes, delegados que não coíbem, dentro de suas áreas de atuação, esses abusos? E ainda tem mulher que acha lindo isso tudo.Quando Luiz Gonzaga e seus grandes parceiros, Humberto Teixeira e Zé Dantas, criaram o forró não imaginavam que depois de suas mortes essas bandas que hoje se multiplicam pelo Brasil praticassem um estelionato poético ao usarem o nome forró para a música que fazem. O que esses conjuntos musicais praticam não é forró! O forró é inspirado na poesia do sertanejo; já esses que se dizem tocar "forró" se inspiram numa matriz sexual chula! O forró é uma dança alegre e sensual; já os outros exibem uma coreografia explicitamente sexual! O forró é um gênero musical que agrega vários ritmos como o xote, o baião, o xaxado; os artistas de araque criaram uma única pancada musical que, com certeza, não corresponde aos ritmos do forró! E se apresentam como bandas de "forró eletrônico"! Na verdade, Elba Ramalho e o próprio Gonzagão, nosso eterno Rei, já faziam o verdadeiro forró eletrônico de qualidade nos anos 80.
Da dança da garrafa de Carla Perez até os dias de hoje formou-se uma geração que se acostumou com o lixo musical! Estão aí funk, swingueira, arrocha, etc. Não, meus amigos: não é conservadorismo, nem saudosismo! Mas não é possível o novo sem os alicerces do velho! Não é possível qualidade de vida plena com mediocridade cultural, intolerância, incitamento à violência sexual e ao alcoolismo!
Mas, felizmente, há exemplos que podem ser seguidos, como os do Trio Forrozão, de São Paulo, ou o grupo Falamansa, que sabe adequar modernidade instrumental com qualidade musical do autêntico forró. Sem falar no extraordinário Waldonys, mais um seguidor de Luiz Gonzaga. E é com esses exemplos que a resistência da cultura nordestina deve se perpeturar, ao contrário do que esses empresários cearenses pretendem fazer.

Carlos Henrique
O que acho?
' Com certeza é a mais pura verdade. Onde é que vai parar? Cada dia mais, mais lixo ¬¬
Não tenho nada contra quem escuta e curte, eu porém até danço.
Mas sei aproveitar o que à de bom na música brasileira.
Faça a diferença.
"Mas não é possível o novo sem os alicerces do velho".

Um comentário:

Rubian Calixto disse...

Excelente crítica.
Seu blog tá ficando lindooo, igual a você. =]

Beijos e blog seeeeeeeempre.
já está nos meus favoritos.